Uma análise da política externa mundial

18/06/2011 - Thiago Bittencourt

O estabelecimento de organizações cooperativas multilaterais como a Organização das Nações Unidas permitiu a consolidação de um fórum global de ajuda, no qual os estados, atores das Relações Internacionais, podem discutir assuntos de relevância mundial.

Certamente as principais decisões do âmbito internacional são tomadas perante os membros do Conselho de Segurança, instituição presa aos desejos das potências detentoras de um assento permanente e veto (Rússia, Estados Unidos, China, França e Reino Unido).

Tais Estados, apenas por serem vencedores da 2ª Guerra Mundial (a China, apesar de não estar no grupo dos vencedores é membro permanente), ostentam um título pelo qual outras 187 nações disputam até hoje, anos após o fim do conflito. O Brasil, por exemplo, almeja o assento permanente.

Essa política não é justificada até hoje. A ausência da Alemanha e de um representante da América Latina e África é incompreensível visto que a Alemanha já se figura como potência econômica, e a América e a África constituem importantes parceiros dos países desenvolvidos.

Outra coincidência é o fato de que os membros permanentes também são os detentores dos maiores arsenais de bombas atômicas, fruto do Tratado de não-proliferação Nuclear (TNP). Tal documento, assinado em 1968 (por iniciativa destes próprios países), oficializa tais arsenais em detrimento dos programas de enriquecimento de urânio de outras nações.

Blocos políticos e econômicos regionais acabam limitando as negociações internacionais. Organizações como a OTAN insistem em ultrapassar os limites impostos pelas Nações Unidas sobre as intervenções militares. Vale lembrar que a ONU não possui a mesma estrutura de sua antecessora, a Liga das Nações, que já autorizava intervenções.

Além disso, os blocos podem servir para aumentar o vínculo com determinado país. O Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) acabou fortalecendo a dependência do México e do Canadá em relação aos EUA. Cerca de 70% dos investimentos estrangeiros em solo canadense são provenientes das bolsas de valores americanas.

Enquanto se percebe um oligopólio do poder no Conselho de Segurança, uma ordem pluripolar se estabelece nos âmbitos econômico e social. China e Índia, gigantes demográficos, não possuem uma política externa relevante. O Japão sofre forte dependência de recursos energéticos devido ao seu pequeno território, mas mesmo assim figura entre as maiores economias do mundo.

Países como Noruega, Austrália e Nova Zelândia podem possuir respectivamente os três melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo, entretanto sua visibilidade no cenário internacional é pequena. A China, apesar da numerosidade de sua população e economia, possui um IDH médio (0,663/1).

Constata-se facilmente então que a distribuição do poder é absurdamente desigual. As maiores economias do mundo não possuem um IDH alto, e em geral os países mais desenvolvidos não têm uma política externa notável.

O antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan enviou ao conselho de segurança uma proposta de reformulação do mesmo, com a adição de membros da América e da África, além de Alemanha e Japão. A proposta foi prontamente negada por Estados Unidos e China.

Os diplomatas do Departamento de Estado afirmam que a adição de mais países reduziria a capacidade americana de liderar maiorias em votações. Já os chineses reprovam a entrada do Japão, pois para eles isso equivaleria à apagar os crimes de guerra nipônicos.

Muito provavelmente a ordem mundial consolidada há alguns anos continuará a existir por muito tempo. Esse oligopólio do poder garante que qualquer tentativa de estabelecer a igualdade das relações internacionais será rejeitada facilmente.