Por que Barack Obama foi reeleito?

11/11/2012 - Thiago Bittencourt

(Créditos: Reprodução Casa Branca)

Em 28 de Agosto de 2008, o Partido Democrata americano oficializou a candidatura à presidência de um pouco conhecido senador por Illinois. Esse homem iria batalhar contra John McCain, outro senador estadunidense, porém proveniente do Arizona. Em um país no qual o voto não é obrigatório, o candidato democrata buscou conclamar jovens a votar por meio das redes sociais, e, com isso, obteve 69 milhões de votos. O voto popular, convertido em 365 votos do colégio eleitoral, garantiu a sua eleição. Esse candidato era Barack Hussein Obama.

Cerca de quatro anos depois, no dia 3 de Abril de 2012, Barack oficializou sua candidatura à reeleição. A partir daquele momento, o atual presidente dos Estados Unidos iria passar por outro processo de campanha. Entretanto, as circunstâncias mudaram bastante em dois biênios. O caos econômico herdado do governo Bush alastrou-se, e impulsionou a taxa de desemprego para incríveis 8%. As promessas de fechamento da prisão de Guantánamo não se concretizaram. A diplomacia norte-americana sofreu inúmeras derrotas, como a falha tentativa de interrupção do programa nuclear iraniano.

De fato, muitas das mudanças dos Estados Unidos indicavam um grande problema para Obama. Por outro lado, a principal alteração na maior potência militar do globo não foi no campo econômico nem no político. A sociedade americana tem passado por um processo de expansão dos grupos negros e latinos. Atualmente, os hispânicos já correspondem a 16% do total de habitantes dos EUA. Quando o adversário de Obama na corrida presidencial, Mitt Romney, anunciou o interesse em reforçar as leis contra a imigração, a revolta dos latinos foi um dos fatores que atrapalharam sua chegada à Casa Branca. Mitt Romney foi derrotado, Barack Obama foi reeleito, e os dados estatísticos ajudam a entender o processo.

Como ilustrado pela tabela, o eleitorado americano ainda é predominantemente composto pela população branca. O voto dessa camada da população foi, em maioria, para Romney, porém com uma vantagem não muito expressiva. Ao observar, por exemplo, as porcentagens dos votos das camadas negra, latina e asiática, percebe-se uma ampla vantagem para Barack. Em termos numéricos, a vantagem é irrelevante, pois o percentual de participação dessas camadas na eleição é muito pequeno. Entretanto, outras estatísticas ajudam a compreender a razão da importância dos votos dos grupos minoritários.

(Créditos: Reprodução CNN)

Observe o mapa do resultado das eleições na Flórida, estado que possui 29 delegados no Colégio Eleitoral – quantia apenas menor que as do Texas e da Califórnia. Como afirmado pelo geógrafo Demétrio Magnoli, nos EUA há uma tendência de votos para os Democratas nos grandes centros urbanos, e votos para o Partido Republicano provenientes das áreas rurais ou menos urbanizadas. Na Flórida, embora Romney tenha vencido eleições parciais em mais regiões do estado, as poucas aglomerações urbanas concentraram eleitores de Barack suficientes para ultrapassar os votos do republicano. No dia 10 de Novembro de 2012, as redes de TV americanas projetaram a vitória de Obama na Flórida.

Em um estado disputado como a Flórida, no qual Obama obteve vitória por apenas 2% de vantagem, qualquer fração do eleitorado pode definir o resultado final. O apoio massivo de 95% dos eleitores afro-americanos da Flórida a Obama foi determinante para que o presidente ganhasse 29 votos no Colégio Eleitoral.

Na campanha para sua reeleição, Obama sofreu levemente os efeitos da crise econômica e social que afeta os Estados Unidos. O apoio dos jovens não foi tão explícito quanto em 2008, e a influência desses nos votos também não. A campanha de 2008 foi caracterizada pelo uso do Twitter @BarackObama e do Facebook como meios de atrair tais eleitores. Já neste ano, Obama enfrentou a oposição causada pelo não cumprimento de algumas de suas promessas feitas 4 anos atrás. Além disso, a campanha perdeu grande parte de sua inovação, simbolizada pela ascensão do primeiro afro-descendente à Casa Branca. Todos esses fatores contribuíram para uma maior igualdade de votos entre as faixas etárias da população estadunidense.

Obama teve redução nos seus percentuais de voto na faixa etária dos 18 aos 29 anos. O número de eleitores dessa idade tende a diminuir, uma vez que os EUA se encontram perto da 3ª fase da transição demográfica, na qual as baixas taxas de natalidade e mortalidade causam um envelhecimento da idade da população. Entretanto, aparentemente, essa tendência demográfica tem sido suavizada nos últimos anos e pode até ser revertida. Em 2008, a ONU elevou a taxa de natalidade dos países industrializados de 1,35 (criança por mulher) para 1,64. Dois anos depois, o índice subiu para 1,71. Esse possível crescimento no número de jovens é vital para Obama e seus companheiros de partido, que conseguiram despertar o interesse dessa faixa etária de eleitores.

(Créditos não encontrados)

O futuro do Partido Democrata está relacionado à ascensão do eleitorado negro e latino. Os republicanos, em contrapartida, baseiam-se na população branca adulta. Em geral, a tendência para as próximas décadas será o crescimento dos democratas com base nos jovens e nas minorias, além do benefício causado pela proliferação do modo de vida urbano e pelo crescente êxodo rural. A possibilidade de mudança no eleitorado do Partido Republicano está na adoção de um discurso mais favorável aos imigrantes. Obama comemora a reeleição junto de sua esposa, abraçando-a. Enquanto isso, o principal partido de oposição ao governo luta para melhorar sua imagem pública, afetada pelos ideais ultraconservadores de Mitt Romney.

Nota