A questão nuclear no mundo moderno
Foto do avião Enola Gay e sua tripulação presente no ataque à Hiroshima. A aeronave foi a primeira a lançar uma bomba atômica. (Créditos: Autor desconhecido | Domínio público)
A tecnologia bélica possui importante papel no mundo atual. Os diversos organismos internacionais sofrem constantemente com a imposição militar de certos países sobre outros. Não se trata de explícitas ameaças de guerra, porém de um conjunto de fatores que impedem a igualdade no sistema diplomático mundial. Entre tais fatores, o poderio nuclear é o que exerce maior domínio opressivo em discussões globais, manipulando os interesses de países que não compõem o grupo de potências bélicas.
A produção de bombas atômicas tem raízes na Segunda Guerra Mundial, com o bombardeamento das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Até hoje, não há registro de sequer um outro ataque radioativo em guerras oficiais. A partir de 1945, com a eclosão do que viria a ser chamado de Guerra Fria, percebeu-se o verdadeiro papel que os arsenais de urânio enriquecido poderiam ter nas relações entre Estados modernos. Tais arsenais seriam desde então utilizados como arma geopolítica.
Se, por um lado, a tensão de uma possível aniquilação humana naturalmente leva ao entendimento mútuo entre países conflitantes, pelo outro há o estabelecimento de um estado de “paz armada”. Dessa forma, cada governo procura incrementar sua indústria de manuseio nuclear, para evitar que as outras nações utilizem seu poder bélico também. Com a superprodução de ogivas nucleares, aumenta-se o risco de incidentes como o vazamento ocorrido na Usina de Fukushima (Japão) em Março de 2011, por conta do terremoto que atingiu o país.
Na atual ordem mundial, nota-se a hegemonia de certas potências em ambos os setores diplomáticos e militares. Ao observar, por exemplo, a configuração do Conselho de Segurança das Nações Unidas, é perceptível a comparação de seus cinco membros permanentes com os cinco países detentores de mais bombas atômicas no planeta. China, Rússia, França, Estados Unidos e Reino Unido têm a posse das cadeiras mais importantes das Relações Internacionais. Em especial, os estadunidenses são responsáveis pelo maior orçamento de Defesa de todo o globo.
Em uma tentativa de reduzir o perigo de ataques nucleares, e de incentivar o uso pacífico da energia atômica, foi estipulado em 1968 o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Dentro de um período de dois anos após a assinatura do documento em Nova Iorque, o acordo multilateral obteve a ratificação por parte de 189 estados, incluindo as potências rivais da época, EUA e URSS. O tratado se baseia em três princípios: o fim da proliferação das armas, a redução dos arsenais já existentes e o estímulo ao uso pacífico da tecnologia nuclear.
Entretanto, ainda existem 3 Estados não-signatários do TNP, além da Coreia do Norte, que se absteve do acordo em 2003. Índia, Paquistão e Israel nunca ratificaram o TNP. Enquanto este mantém em segredo o andamento de seu projeto nuclear, paquistaneses e indianos se armam em preparação para quaisquer conflitos. A Índia possui uma política de não iniciar o uso de armas nucleares em uma guerra, exceto no caso de uso dessas armas por seu inimigo contra sua soberania. Um dos focos de atenção é a conturbada região da Caxemira, que abriga diversas ogivas atômicas para ambos os países.
Apesar de o TNP ser considerado a melhor solução para o impasse da tecnologia nuclear, muitos países, signatários ou não, confirmam a desigualdade que o acordo apresenta. Formam-se grupos de Estados privilegiados com o acesso à programas nucleares, separados dos que não desfrutam do acesso aos programas, nem mesmo para uso pacífico da energia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica fiscaliza o desenvolvimento nuclear de cada país, embora seu trabalho seja considerado discriminatório por muitos dos países punidos pela organização.
Precisa ser encontrado um modo de garantir a paz mundial e o desenvolvimento da energia atômica pacífica sem que a soberania de cada Estado seja afetada. A única maneira de alcançar ambos os objetivos consiste nas negociações diplomáticas. Dessa forma, é imprescindível a efetuação de uma reforma dos atuais organismos internacionais, de modo que eles possam corresponder eficientemente às suas metas e contribuam para a igualdade entre as diversas nações do globo. A questão nuclear é o maior desafio do século XXI, pois todo o sistema político mundial depende do poderio nuclear. Portanto, sem igualdade entre os arsenais de ogivas de cada país, não haverá igualdade entre as nações como um todo.